GAVIÃO ALERTA
Comunidade depende do açude Boqueirão para se abastecer, no entanto, água está contaminada.
Sobral No distrito de Boqueirão, neste Município, o açude que abastece a população não aumentou de volume devido às poucas chuvas e à população reclama de problemas no tratamento da água. Na última segunda, houve a primeira audiência com o Ministério Público para tratar do assunto. De acordo com relatório, a água do reservatório está imprópria para o consumo humano.
O açude, que leva o mesmo nome do distrito, é o único meio para abastecimento da comunidade, que hoje conta com 150 famílias, cerca de 800 pessoas. De acordo com os moradores, a poluição viria de uma lagoa de estabilização na localidade de Camilos, distrito de Meruoca.
Irregular
O aposentado Edilson Liberato aponta ainda que a pesca irregular ajuda a piorar a situação. "O açude está muito seco e a água suja, os pescadores não ajudam, pescando e batendo na água, em certos dias podem ser contados mais de 20 pescadores, todos batendo na água e é porque nem tem muito peixe. Quando pescam um ou dois já é motivo de alegria", diz ele. Para a família da dona de casa Margarida de Sousa, a saída encontrada foi a construção de um cacimbão. Ela utiliza a água do cacimbão para tomar banho e cozinhar. A água do açude é utilizada para lavar roupas, "mas sempre que lavo, tenho que deixar as roupas de molho quase no amaciante puro, porque o cheiro de fezes é intenso. Uma vez fui tomar banho com a água do açude, mas apresentei reação alérgica, minha pele ficou vermelha e coçando, além do cheiro ruim ter demorado dias para sair".
Proibido
Alguns moradores ainda afirmam o uso de Timbó pelos pescadores, porém, não quiseram se identificar, pois afirmam que há animosidades entre os pescadores e os moradores da localidade. Timbó é um tipo de cipó que libera uma substância tóxica que paralisa os peixes e torna a água imprópria para o uso humano. O cacimbão, porém, não se torna uma opção viável para todos, pois abastece mais de uma família, tornando o uso limitado, e demanda na utilização de energia elétrica para o motor. Quem não pode contar com o recurso, utiliza apenas a água do açude. A audiência realizada não foi a primeira a discutir o assunto, porém, contou com a presença do representante do Ministério Público, Irapuan da Silva Dionísio Júnior. De acordo com ele, há necessidade de se certificar de todos os conflitos entre moradores, pescadores e os responsáveis pela lagoa de estabilização e depois reunir todos para que todos os lados sejam ouvidos. De acordo com a gerente de Vigilância em Saúde, Suely Torquato, a comunidade é abastecida pela ONG Sistema Integrado de Saneamento Rural (Sisar), que é responsável também pelo tratamento da água.
Relatório
Conforme o relatório feito, ela afirma que a água do açude Boqueirão está imprópria para consumo humano. "A água do açude deveria sair imprópria na hora da captação e chegar na casa do consumidor tratada, porém, de acordo com o último relatório que foi apresentado, há um alto nível de bactérias e toxinas quando chega às residências", disse ela. O agente de Ação Social, Edilson Cunha, explica que a lagoa de estabilização que pode estar causando parte da poluição foi construída na década de 70, antes de fixada a regra da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) de que o número mínimo de lagoas de estabilização devem ser três, causando uma sobrecarga na lagoa única de Camilos, que é mantida por uma associação comunitária da localidade.
"O problema não tem apenas cunho técnico e social, mas também financeiro. Camilos é uma região acidentada da Serra da Meruoca e cada metro de terra é aproveitado para construções pela população. Fazer a troca de esgoto comunitário para fossas se torna difícil quando podemos pensar em bairros de grandes cidades que ainda não apresentam esse tipo de saneamento", comenta.
De acordo com Suely Torquato, há a distribuição de hipoclorito de sódio por meio dos agentes de saúde da Prefeitura de Sobral, e a explicação do uso correto para o tratamento doméstico da água. Mais informações: Sistema Integração de Saneamento Rural (Sisar) Av. John Sanford, 1994 - Junco Sobral - CE Telefone: (88) 3614.1869
Via: Diário do Nordeste/ Jéssyca Rodrigues - Colaboradora.